A identidade de ser criança é, muitas vezes, diluída numa situação de internação, em que a criança se vê numa realidade diferente da sua vida cotidiana. O papel de ser criança é sufocado pelas rotinas e práticas hospitalares que tratam a criança como paciente, como aquele que inspira e necessita de cuidados médicos, que precisa ficar imobilizado e que parece alheio aos acontecimentos ao seu redor. Na tentativa de compreender o resgate da subjetividade e sua contribuição para a saúde da criança hospitalizada, proponho a análise de situações pedagógicas enquanto interações sociais privilegiadas da criança nesse novo momento de sua vida. Os estudos e pesquisas voltados para a análise da infância revelam que esse período da vida vai desde o nascimento até a puberdade. É a idade da meninice, porém vale ressaltar que considerar o grau de importância social atribuído a essa fase é algo recente na história ocidental. Na sociedade medieval não havia valorização da infância, e a indiferença dessa época para com a criança é muito significativa. A particularidade dos cuidados com o infante era negada, o que resultava na elevada taxa de mortalidade infantil. Ariès (1981) mostra-nos que o moderno sentimento familiar, caracterizado pela intensidade das relações afetivas entre pais e filhos, privacidade do lar e cuidados especiais com a infância, foi produzido ao longo dos anos pelas mudanças socioeconômicas instaladas nas sociedades industrializadas. Todavia, é importante ressaltar que a história da infância no Brasil se confunde com a história do preconceito, da exploração e do abandono, pois desde o início houve a diferenciação entre as crianças segundo sua classe social, com direitos e lugares diversos no tecido social. Elegeram-se, assim, alguns poucos como portadores do “vir a ser” (grandes homens e grandes mulheres), enquanto tantos outros foram reduzidos à servidão, muitas vezes classificados como geneticamente doentes e, assim, socialmente incapazes.
Por: Rejane de S. Fontes, 2005
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